Page 83 - Da Terra
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Tenho uma viagem marcada

 O          Não levo nada do que tenho
            Quando a dou não sei
 Sábio
            Só tenho o que cá deixei





             Naquele tempo, não havia lenha como há agora. Todos cortavam lenha para fazer o comer, para
             se aquecerem e para cozer o pão. Ora, um dia, um homem saiu para ir cortar lenha para acender

             o forno para a mulher cozer o pão. Preparou o burro e saiu de casa. Andou, andou, andou até que
             encontrou umas oliveiras. Subiu a uma delas, pôs-se em cima de uma tranca e começou a cortar.


             Nisto passou ali um homem que olhou para o que ele estava a fazer e disse-lhe:

             - Oh mestre, você quer cair cá em baixo. Então você está a cortar a tranca onde está

             sentado? Você assim vai cair!


             - Oh homem, você deixe-me da mão que eu tenho é de me despachar. Tenho a minha mulher
             à espera que está a acabar de amassar.


             - Vossemecê é que sabe, mas eu estou-lhe a dizer que você vem por aí abaixo!


             O homem não fez caso e con nuou a cortar e, tal como o outro lhe dita dito, veio cá parar ao
             chão. Levantando-se meio dorido, pensou:


             - Este homem é bruxo. Só pode! Então se ele adivinhou que eu ia cair daqui abaixo
             também adivinhará quando é que eu morro.


             Agarrou na corda das correias do burro e foi atrás do homem.


             - Oiça lá, você é bruxo, não é? Você há-de me dizer quando é que eu morro!

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